Rivalidade Velada: Nyusi e Bernardino disputam legado e comando institucional

Nos bastidores do poder moçambicano, uma tensão silenciosa entre o ex-Presidente Filipe Nyusi e o ex-Comandante-Geral da Polícia, Bernardino Rafael, vem moldando decisões estratégicas e rearranjando alianças internas. Embora nunca tenham se confrontado publicamente, sinais de desgaste e disputa por protagonismo tornaram-se cada vez mais evidentes.

Durante os anos críticos da insurgência em Cabo Delgado, Bernardino Rafael assumiu uma postura operacional e midiática, frequentemente ofuscando os pronunciamentos presidenciais. Enquanto Nyusi buscava uma narrativa diplomática e institucional, Rafael aparecia em campo, armado e cercado por câmeras, consolidando uma imagem de “comandante da paz” — algo que incomodou setores do governo e das Forças Armadas.

A tensão se agravou com o afastamento de oficiais próximos a Rafael, promovido por Nyusi sob justificativas administrativas. Nos corredores do poder, o gesto foi interpretado como uma tentativa de desmantelar redes de influência que escapavam ao controle presidencial. Rafael, por sua vez, manteve-se ativo em círculos sociais e religiosos, reforçando sua base simbólica e popular.

Analistas políticos apontam que a disputa entre os dois não é apenas institucional, mas também simbólica: Nyusi representa o poder central, cauteloso e partidário; Rafael encarna o comando direto, popular e operacional. Ambos disputam o legado da “pacificação nacional” — um título que pode definir futuros apoios eleitorais e reconfigurar o mapa político pós-FRELIMO.

A rivalidade, embora não declarada, já influencia nomeações, discursos e até investigações internacionais sobre abusos cometidos durante operações militares. E no xadrez moçambicano, onde cada silêncio é estratégico, o embate entre Nyusi e Rafael pode ser o prelúdio de uma nova era política — ou de um ajuste de contas institucional.